Ao analisarmos o processo histórico pelo qual passou o indivíduo com deficiência percebemos, na maioria das vezes, situações de rejeição e isolamento. Segundo Aranha (2005), na antiguidade eram considerados seres amaldiçoados pelos deuses e por isso exterminados. Na Idade Média foram assistidos pela igreja passando a ser considerados criaturas de Deus, porém longe dos olhos da sociedade.
A partir do século XVII a deficiência deixa de ser considerada um fator espiritual e passa a ser um processo natural favorecendo ações de tratamento médico, porém, ainda em condições de isolamento, confinados em hospitais e internatos.
A medicina evoluiu, outras áreas do conhecimento foram aperfeiçoando as idéias sobre a deficiência, mas ainda hoje permanece o paradigma da segregação.
Em defesa da construção de uma sociedade mais justa e acolhedora, inicia-se, na década de 80, um movimento a favor da educação para todos (Menicucci, 2006), mas somente na segunda metade da década de 90, com a Declaração de Salamanca¹ as ações começaram a se efetivar de fato. Cabe ressaltar que este movimento visa não somente o direito das pessoas com necessidades educativas especiais de freqüentarem as salas do ensino comum, mas também a inclusão social delas.
Dança e deficiência
Consta na resolução 46/96 de 04 março de 1994, aprovada pela Assembléia Geral das Nações Unidas, que os Estados devem zelar para que as pessoas com deficiência se integrem socialmente e possam participar de atividades culturais em condições de igualdade oportunizando a utilização de seu potencial criativo, artístico e intelectual, citando em seus exemplos atividades de dança, música, literatura, teatro e artes visuais.
São inúmeros os benefícios observados na utilização da arte e especificamente da dança nas pessoas com deficiência (Ferreira & Ferreira, 2004), dentre eles podemos citar a melhora da coordenação motora, do equilíbrio, do campo visual, ritmo, auto-expressão, auto-imagem, tendo esta última, grande relação com a percepção social da deficiência.
A formação da auto-imagem se dá a partir da relação com o outro. É através da fala do outro que o indivíduo vai interiorizando o que lhe é atribuído até que se torne algo dele próprio (Ciampa, 2001). Falas do tipo “coitadinho ele é deficiente” ou “ele não consegue, pois é deficiente” são falas muito comuns e prejudiciais na contrução da auto-imagem. Em contrapartida o ser aceito reflete uma imagem de satisfação, de adequação, de ser sujeito de si mesmo, o que gera o sentimento de fazer parte, de estar incluído, de potência diante da vida e do corpo. Ao passo que o não aceito resulta em uma imagem de defeito, de menos valia [...] (Ferreira, 2007).
Sabendo que o deficiente enfrenta todos os dias, além de situações de fracasso, uma sociedade que o discrimina e exclui, como será a constituição desta sua auto-imagem?
Ao estudarmos o valor da dança para a pessoa com deficiência percebemos que há algo além do simples desenvolvimento psicomotor, há uma ressignificância deste corpo enquanto sujeito.
De acordo com Ferreira & Ferreira (2004), na dança, a pessoa com deficiência não deixa de ser deficiente, mas ela passa a ressignificar sua relação com o próprio corpo, com a linguagem e com a sociedade “O corpo não muda em si, mas passa a significar de outras maneiras”.
A autora, em seu estudo sobre dança em cadeira de rodas, aponta alguns dos benefícios desta forma de arte:
- Pode ser um instrumento de auto-conhecimento e descoberta das possibilidades de transformação social;
- É mais uma forma de expressão e comunicação;
- Proporciona possibilidades de movimentos;
- Proporciona superação das limitações.
Sendo assim, a dança pode contribuir para a formação de uma auto-imagem positiva o que contribui para a aceitação de sua deficiência e limitações.
Referências bibliográficas:
ARANHA, Maria S. F. Escola Viva: Garantindo acesso e permanência de todos os alunos na escola. Visão Histórica. V1, 2ª ed. Brasília. 2005.
CIAMPA, A. C. A estória de Severino, e a história de Severina: um ensaio de psicologia social. São Paulo. Brasiliense, 2001
FERREIRA. Carlos A. de M., Machado R. Um estudo da imagem corporal sob a ótica da consciência e do Inconsciente in ...
FERREIRA. Carlos A. de M., Alves Cristina N. A imagem e o esquema corporal do sujeito com necessidades especiais, In Psicomotricidade: Educação especial e inclusão social. WAK. Rio de Janeiro. 2007.
MENICUCCI, Maria do C. Educação Inclusiva: Possibilidades e Desafios Atuais in Educação Especial Inclusiva. Puc Minas Virtual. Belo Horizonte. 2006.
RAMOS Maria I. B., Silva Eduardo J. C. As marcas do diagnóstico e a importância da intervenção precoce. In Psicomotricidade: Educação especial e inclusão social. WAK. Rio de Janeiro. 2007.
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