segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Artigo publicado no Diário Catarinense - Kelem Zapparoli

Por muito tempo, a educação da pessoa com deficiência foi baseada em uma pedagogia mais terapêutica que acadêmica, dando ênfase em habilidades para a sua autonomia e um interminável processo de prontidão para a alfabetização (Glat, 2007). Estes alunos passavam boa parte dos seus anos de escolaridade enfiando contas em barbantes, fazendo bolinhas de papel crepom, aprendendo a comer e a tomar banho sozinhos. Certamente este modelo de aprendizagem teve e ainda tem seus méritos e não podemos condená-lo por completo, mas novas pesquisas revelam a grande capacidade de aprendizagem destas pessoas, desde que lhes sejam oferecidas oportunidades adequadas, como é o caso da perspectiva histórico-cultural que tem como seus principais teóricos Alexei Leontiev, Alexandre R. Luria e Lev S. Vigotski. Eles partem da premissa que o desenvolvimento humano ocorre socialmente e de forma dialética, onde o homem influencia e é influenciado pelo meio que vive. Suas descobertas revolucionam o mundo da ciência, mas por questões políticas sofrem sanções em determinados momentos históricos, já que esta teoria valoriza o caráter social para o desenvolvimento do sujeito, não confirmando mais as teorias biológicas da pedagogia do dom, por exemplo, onde as causas do sucesso ou fracasso são consequência da falta de habilidade do indivíduo. Na visão da teoria histórico-cultural estas "inabilidades" são fortemente influenciadas pelas desigualdades culturais socialmente determinadas (Freitas, 1994). A compreensão do homem social traz novas formas de perceber a pessoa com deficiência, aliás, foi nestes estudos (chamado de defectologia na Rússia do início do século XX) que Vigotski pautou suas leis gerais do desenvolvimento humano. Conforme Gindis , as leis psicológicas de Vigotski foram descobertas com base no estudo de "várias anomalias". Para Vigotski (1989) o desenvolvimento cultural da criança com deficiência constituía-se um grande problema para a defectologia da época, pois, em sua concepção, a maneira como a sociedade lida com a deficiência é que contribuirá para o modo como o indivíduo irá se desenvolver. Como o meio lida com a pessoa com deficiência? Exclui? Superprotege? Ao compreendermos a educação neste sentido, podemos perceber a importância do professor e assim refletirmos na educação da criança com deficiência proposta na sala de aula: Oferecemos atividades que desafiem seu pensamento ou subjulgamos suas capacidades oferecendo atividades mecânicas e sem significado? Realmente estão incluídos nas atividades com o restante da turma ou fazemos uma educação paralela acreditando que não são capazes de aprender o que é ensinado para a turma toda? Vigotski defende a ideia de que todos são capazes de aprender se lhes oferecemos oportunidades adequadas e respeitamos suas limitações. Considero neste sentido, que o uso de estratégias lúdicas pode ser uma boa intervenção na sala de aula. Porém, é importante que o professor não considere esta proposta simplesmente pela ação do brincar, que já é ótima, mas que aproveite a oportunidade para criar desafios fazendo com que o aluno reflita sobre a brincadeira. Outras questões a serem observadas durante o planejamento das atividades são a possibilidade de participação de todos os alunos, com as adaptações necessárias; a valorização da relação aluno-aluno e não apenas professor-aluno; o respeito às diferenças. http://diariocatarinense.clicrbs.com.br/sc/geral/dc-na-sala-de-aula/noticia/2012/08/estrategias-ludicas-para-o-ensino-da-crianca-com-deficiencia-3859179.html

Um comentário:

  1. Adorei sua abordagem. Tenho uma afilha Down e percebo nela uma capacidade inigualável!!! Estou atualmente numa "briga interna" quanto a sua inserção ou não na escola comum... Receio que ela regrida porque as escolas/professores da rede pública não estão preparados para recebê-la, mas por outro lado penso que isso seja tão importante para ela quanto todo o processo até aqui...

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